(Arte: Álan Batista) |
Ah! O tempo livre, que coisa mais antiquada. Estou aqui, em meio aos meus três compromissos simultâneos, me perguntando: imagine ter tempo livre. Tempo solto, tempo desgarrado, tempo sem amarras. Que loucura!
A verdade é que não há como ter tempo livre. É uma ilusão. Sempre há algo que tem de ser feito; algo que tem de ser lido; tem de ser assistido. Tem de ser, inclusive, refeito; relido; reassistido – afinal “você não fez corretamente” ou “da melhor forma”. E ele é finito, dizem. Meu Deus! Tão pouco tempo para tanta coisa! Profanaram o tempo livre em tempo mal utilizado. “Não ter o que fazer? Sem tempo, irmão! Vai investir em si”.
Ouso imaginar o que faria com tempo livre. Acho que ficaria desesperado. Tantas são as possibilidades… nem consigo dimensionar, sinceramente. Tudo que me vem à cabeça seria útil. Pensando bastante, com extremo cuidado, acho que eu respiraria um pouco.
Mas, obviamente, trata-se de um devaneio. Impossível imaginar ter tempo livre. É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim da agenda.
02 de junho de 2021
Rafael Vasconcellos
Rafael é carioca, clínico em eterna formação, ex-tenor no “SVAC” e mestrando em psicologia pela UFRJ. Filósofo de botequim e sofredor pelo Botafogo, escreve como hobby para ajudar a respirar. Acredita que na escrita de ficção como uma arma poderosíssima de comunicação que deveria ter mais espaço nos ambientes acadêmicos.
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