Vírus, bactéria, protozoário... tanto faz - Rafael Vasconcellos


(Arte: Álan Batista) 


Imagina se, em vez de coronavírus, fôssemos atacados por um protozoário? Ou por uma bactéria? Aliás, você, por acaso, sabe a diferença? Eu também não sei. A não ser que quem esteja lendo isso seja microbiólogo, então, nesse caso, sinto muito pela minha ignorância.


A verdade é que essa é apenas uma pergunta para especular como seria se fosse diferente. Fazemos o tempo todo, “e se…”, só que agora mais frequentemente. E ainda mais frequentemente sobre assuntos antes pouco pensados por todos nós – perdão, microbiólogos.


Queria pensar em uma realidade em que muitos se vacinaram e poucos morreram, mas não é o caso. Não digo isso comparando números, mas pensando que muito e pouco são sempre horizontes que a gente busca.


Por exemplo, queria que poucos desdenhassem da preocupação alheia, da dor alheia ou do luto alheio. Queria que muitos tivessem a capacidade de resistir a tudo isso que tenta lhe matar todo dia. Há coisas que matam muito mais que bactérias ou protozoários, seja lá qual for a diferença.


Enfim, não irei chover no molhado aqui, pois já estamos cansados disso. Todo dia isso. Uma exaustão que tem que ser constantemente ignorada para que sigamos nosso dia a dia, fingindo estar “tudo bem na medida do possível”. Ignoramos nossa exaustão e a do outro, porque precisamos sobreviver – não se culpe, não há comparação com aqueles que desdenham. Eles matam para sobreviver, não buscam viver como você.


Com o tempo, descansaremos, de um jeito ou de outro. Quando esse dia chegar, estaremos prontos para agir, seja numa grande ou pequena ação. Mas esses termos são horizontes também, visto que qualquer pequena ação a essa altura já é grandíssima. 


Vamos lá, mais um dia, 

Mas um dia

Descansaremos




16 de junho de 2021

Rafael Vasconcellos 

Rafael é carioca, clínico em eterna formação, ex-tenor no “SVAC” e mestrando em psicologia pela UFRJ. Filósofo de botequim e sofredor pelo Botafogo, escreve como hobby para ajudar a respirar. Acredita que na escrita de ficção como uma arma poderosíssima de comunicação que deveria ter mais espaço nos ambientes acadêmicos.

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