A velhinha - Rafael Vasconcellos



  

Uma velhinha falava sozinha Mas ninguém na rua a ouvia Bem, o que falava tal velhinha? A velhinha debatia Sentadinha na esquina Ensinava e aprendia Com voz grossa e voz fina Citava e recitava Questionava; discutia Dizia e, quem diria, Uma menina a ouvira Seu olhar não desviaria Enquanto ouvia a velhinha Pela idade que ela tinha Nenhuma palavra entendia Quem sabe, todavia No futuro ressoaria Uma nova ideia imaginaria Sem saber que já ouvira Anos antes, na esquina A velhinha que debatia Bem, e o que falava tal velhinha? Mais ninguém na rua a ouvia Torço, então, pela menina Desabrochar em poesia O que dizia tal velhinha Morfando o ciclo em ciclo-via No envelhecer de tal menina Quando poeta se tornaria Em um de seus versos estaria O que diziam as velhinhas




Poema publicado em "Poesias para a Nova Década". Casa Literária, 2020.


11 de agosto de 2021

Rafael Vasconcellos 

Rafael é carioca, clínico em eterna formação, ex-tenor no “SVAC” e mestrando em psicologia pela UFRJ. Filósofo de botequim e sofredor pelo Botafogo, escreve como hobby para ajudar a respirar. Acredita que na escrita de ficção como uma arma poderosíssima de comunicação que deveria ter mais espaço nos ambientes acadêmicos.

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