Redescobrindo pessoas - Rafael Vasconcellos





  

Com o avanço da vacinação, reencontros presenciais tem ocorrido cada vez mais frequentemente entre pessoas que não se viam há, literalmente, anos.


É muito estranho rever pessoas depois de tanto tempo. Elas estão muito diferentes. Por mais que as reconheçamos e que entendamos que cada um lidou com esse momento da forma que foi possível, o estranhamento acontece – e está tudo bem.


Levando em conta que a maior parte do nosso convívio social foi e é através de janelas digitais, o encontro presencial ainda é algo que parece nem pertencer mais a esse mundo.


É claro, sejamos realistas, tem gente que nem usar máscara em locais públicos e coletivos tem usado, imagina exercer o distanciamento social. Acho sempre importante enfatizar isso quando escrevo sobre pandemia. Há pessoas que não vivem e não viveram na pandemia. Seja por necessidade ou por negação. Mas, fato é, que muita gente viveu e vive, isso não é ignorável.


E os impactos ainda hão de ser propriamente mensurados, pois eles nos cercam e nos constituem fortemente, se pararmos para ouvi-los e senti-los. Claro, são necessariamente dolorosos, então não se preocupe se não conseguir entrar em contato, cada um tem o seu tempo.


Temos, no entanto, como gosto de frisar de tempos em tempos, pessoas que se importam com a gente, que querem nosso bem e que possuímos o sentimento recíproco. Se descobrir e conhecer nossos amigos já foi uma experiência bacana, podemos encarar esse momento do "estranhamento", mencionado anteriormente, como uma forma de redescobri-los e criarmos novas conexões de identificação com eles. Todos nós precisamos de conexões nesse momento. Precisamos, também, de paciência. Quando nos reencontrarmos, alguns sedentos de conversas e de novidades, outros estarão tímidos, sem saber exatamente o que falar. Nossas habilidades sociais precisam também ser exercitadas, como qualquer outra que temos. Alguns tem mais facilidade, é natural.


Mas, ao mesmo tempo, podemos praticar a paciência como forma de carinho àqueles que amamos.


Nessa linha, penso que o verbo "redescobrir", presente inclusive no título, seja fundamental. O exercício de olhar ao redor e ressignificar as coisas é realmente algo da ordem do fantástico. Que consigamos redescobrir lugares, filmes, livros, viagens, memórias e, especialmente, pessoas.




15 de setembro de 2021

Rafael Vasconcellos 

Rafael é carioca, clínico em eterna formação, ex-tenor no “SVAC” e mestrando em psicologia pela UFRJ. Filósofo de botequim e sofredor pelo Botafogo, escreve como hobby para ajudar a respirar. Acredita que na escrita de ficção como uma arma poderosíssima de comunicação que deveria ter mais espaço nos ambientes acadêmicos.

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