Liberdade, liberdade, liberdade, liberdade, liberdade, liberdade: não.
Quando o fogo arde, o tempo, a mata se desfaz. “Viva! Grande dia!” (desafio agora é paz). Normas de disfarce, a barragem rompe e cai sobre nós, nós, nós... Engolir veneno é saber reconhecer a hora de ser certo e a hora de temer. Foge-se da morte, não há sorte, tudo cai sobre nós. Tudo cai sobre nós! Tudo cai sobre nós! Tudo cai, tudo cai, é o exílio de nós.
Liberdade, liberdade, liberdade, liberdade, liberdade, liberdade: não.
Raso no discurso, puxa a corda ao desabar, mas o paraquedas não sustenta o lamentar. Foram-se os minutos, poucos deles a falar sobre nós, nós, nós... Os peões avançam nesse jogo de xadrez, engolidos pela lama desse nosso velho rei(no). Matam-se as peças porque essas falam bem sobre nós. Tudo cai sobre nós! Tudo cai sobre nós! Tudo cai, tudo cai, é o exílio de nós.
E eu não tenho mais voz nesse exílio de nós, pois só cai, tudo cai. Só cai, tudo cai... Só cai, tudo cai sobre nós.
Moro no escuro, não há mais pra onde ir. Gritarias com os “patifes” que não cansam de exigir. Presos, inseguros, mas existem os que cuidam de nós, nós, nós... Seiscentas mil covas é mais que meio milhão e, na época, mentia diante de uma nação. Forjam-se as revoltas, isoladas, sustentadas por nós. Tudo cai sobre nós! Tudo cai sobre nós! Tudo cai, tudo cai, é o exílio de nós.
Liberdade, liberdade, liberdade, liberdade, liberdade, liberdade: não.
A "normalidade" volta a reconstruir pontes de coragem, de afetos, de sorrisos. Esperança nasce como flores de amor entre nós, nós, nós... Ante o desamparo, a verdade revelou. Viva, liberdade! Viva, ouça a nossa dor! Pensam que perdemos, mas podemos elevar nossa voz: Tudo cai, mas não vai. Cai, mas não vai. Tudo cai, mas não vai ser exílio de nós. Tudo cai sobre nós! Tudo cai sobre nós! Tudo cai, mas não vai ser exílio de nós.
Liberdade, liberdade, liberdade, liberdade, liberdade, liberdade: sim.
Tudo cai sobre nós.
Felippe Del Bosco
Psicologia - UFRJ
Felippe integra a Revista Fragmentos e compôs este protesto-canção entre 2019 e 2022, a partir de suas afetações individuais, sociais e políticas. Acreditou ser importante compartilhá-la em um momento que antecede as eleições do seu país, ainda que "cantada" pela sua própria voz. As pessoas o chamam de gentil, mas se considera meio teimoso. Talvez Felippe teime em ser gentil a todo custo (nem sempre dando certo). Enquanto uma pessoa com deficiência e com sexualidade e gênero dissidentes, luta pelo respeito, pela diversidade e pela inclusão. Viver de poesia é um dos seus maiores sonhos.